Se há coisa que gosto em Lisboa é a luz que inunda os dias de alegria, mesmo que seja Outono. E não me lembro, nos anos que vivo na capital, de sentir tanto o Outono como nestes dias.
Hoje acordei cedo, como de costume. Depois de bebericar o meu expresso corri para a rua e palmeei o Chiado de lés-a-lés à procura de não sei bem o quê. A chuva que caía miudinha foi engrossando e corri mais uns quarteirões com os cabelos ensopados de vida. Teimo em permanecer à chuva, ofegante, de olhar absorto nos prédios calcinados de antiguidade, empedrenidos de pó e memórias. Entre o desalento e a confusão, o cheiro a fumo, exalo o ar que me percorre, entre as folhas das árvores caídas na calçada. O Tejo cobre-se de um manto cinzento, cujas águas ondulam ao sabor da força da corrente do mar onde se entranha, como se estivesse possuído de prazer.
A chuva ainda não partiu. Parece que veio para ficar, dissipar o frio que se faz sentir a marcar o Outono. O cinzento das nuvens enche-me de nostalgia mas, o sentimento de renovação impõe o meu ritmo diário... Há que viver!