
A ideia de exploração é uma constante na nossa sociedade. Quase diariamente somos bombardeados por notícias que dão conta das mais variadas formas de exploração sexual, exploração de menores, exploração laboral... E ao ritmo que as coisas avançam não será de estranhar um aumento da frequência e gravidade deste abuso ou crime, como lhe quiserem chamar (que eu de leis pouco percebo).
Hoje, aproveitando o Sol esplendoroso que aquecia a fria Lisboa dos últimos dias, lá fui dar conta do meu passatempo preferido como bom homem do campo_ observar as pessoas da cidade grande.
Quando saia de uma boutique de luxo da capital deparei-me com a tão esperada cena do cãozinho que acompanha o acordeão do mendigo, assíduos do metro, mas que eu há muito não avistava. Não é que me dê especial prazer, mas gosto do cão ou cadela (que o sexo não interessa nada) ao ponto de a adoptar cá para casa. Mas, voltando atrás, será muito forte referir-me ao rapaz como mendigo? Afinal, o rapaz deve contar uns 19 anos, como máximo. Refiro-me a ele como mendigo por mendigar umas moedas, não sei com que intenção. O cãozinho serve para enternecer os corações das pessoas, chamar a atenção das crianças, focalizar a atenção de alguns como eu, nos seus olhos tristes.
Há uns dias, discutia com um amigo o magistral filme "Ensaio sobre a Cegueira" de Fernando Meireles e partilhavámos a ideia de que, mesmo fraco e condicionado, o ser humano tem sempre a capacidade de ser tão cruel para explorar quem, mesmo fraco como ele, esteja numa condição um pouco inferior. Na realidade que observei hoje, um é humano e o outro um animal. No filme tudo se traduzia na posse de bens materiais.