segunda-feira, 9 de agosto de 2010

MEDO


O medo corroia as suas entranhas. Um semblante cinzento abatia-se-lhe no rosto. Logo ele que nunca tinha dado parte fraca. Sentou-se lentamente no degrau de pedra mármore, a mesma que lhe secou as lágrimas quando encostou o rosto à ombreira da porta. Já não tinha força para soluçar, apenas sentia o sabor salgado chegar-lhe aos lábios, a pele seca e os olhos enevoados. Não definia contornos e pareceu-lhe que as espigas de trigo crepitavam, incendiadas pelo Sol que se esbatia no campo. Um sentimento parecido incandescia a sua alma.
_ Nunca ninguém pode ser sempre tudo. Convence-te disto! _ Dizia a sua mãe. És tudo, por momentos, algumas vezes, em diferentes dias, para pessoas distintas. Se para mim és tudo, para outros haverá que nada és. Mas só assim poderás conhecer a felicidade e partilhá-la. Não tens de ter medo. Se viveres com a verdade, os anos não te tornarão amargo.