segunda-feira, 14 de maio de 2007

The Flower


Preciso de flores na minha vida
De côr,
Da alegria
E entusiasmo.
Tenho uma dádiva perdida
De dor.
Quero a magia
De sonhar acordado.

domingo, 13 de maio de 2007

Maio


O que me lembra Maio é o cheiro intenso de uma árvore.
Era uma árvore que ficava por cima de uma esquina, que não era uma esquina qualquer. Era uma esquina redonda de paredes brancas, caiadas e com rodapé de pó-de-sapatinho azul. Uma fresca mistura como na mais tradicional e antiga azulejaria portuguesa. Lembro-me do seu aroma adocicado cada vez que passava naquela esquina. O aroma da árvore que se desprendia, que se fazia anunciar à sua proximidade e que se prolongava e se continua a fazer sentir, não na minha memória olfactiva, mas no meu coração. A árvore frondosa sombreava o seu espaço e acariciava o véu pintado de azul, desbotado pelos raios de luz. Mas esta árvore não era uma árvore qualquer, era a árvore do paraíso. As suas pequenas e frágeis flores brancas de estames amarelos são os Paraísos e qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência, porque me recordam o Paraíso, seja isso o que for.
Era no Mês de Maria que íamos pedir à Senhora da árvore um raminho de flores, os Paraísos. Em casa, lembro-me que a minha mãe arranjava os Paraísos e juntava-lhes cravos brancos, atava os pés das flores com fio e enrolava papel prateado em seu redor, como que a protegê-los, rematando com um laço em fita com as pontas bem grandes e pendentes. Ao cair da noite íamos em procissão, nós as crianças acompanhadas pelas vozes do povo, oferecê-los a Nossa Senhora. Devolvíamos as flores ao Céu, onde pertencem os Paraísos.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Minha


O Sol desce lentamente e um ar gelado ainda nos martiriza os cabelos, despenteia-os, enrijece a nossa pele. Os campos florescem, perdem-se de vista numa fracção de segundos. O velocímetro dispara. Vacas pastam. A paisagem está quieta, imóvel à nossa passagem. Pássaros passeiam em bandos, serpenteiam o horizonte. Parecem acompanhar o barco que se desloca para Sul, flutuando sobre a cúpula que coroa a cidade. O cheiro das primeiras flores invade a brisa com uma intensidade atordoante, que fere as narinas e percorre as tuas veias. Relembro os meus dias ali, entre o casario e a imensa planície que se estende a seus pés. Quando os dias cresciam, de repente, como a vontade de te percorrer com todos os meus sentidos, aligeiravamos a roupa e sorriamos nas esquinas e nas praças, vagueavamos pelas ruas e jardins e repusavamos os olhos no teu entardecer. Sempre foste um segredo bem guardado e mesmo agora, há distância de alguns anos, mesmo depois de te ter vivido, de viver o teu âmago, continuas misteriosa. Ergues-te para o imenso azul, onde refletes a tua alma de luz. Por vezes clara, outras vezes na penumbra dos becos continuas a olhar o horizonte, perdida de esperança.

Continuo a gostar de desvendar mistérios...