quinta-feira, 1 de março de 2007

Sonho


Vejo que a chuva ainda cai lá fora, na noite crua. Surpreendeu-me neste serão ainda frio, ao arrepiar-me os diminutos cabelos da nuca. O sentimento da tua ausência confunde-se com o vento, como quem te viu ir para algum sítio sem saber bem para onde e te continua a procurar sem sabe porquê. O vento é frio. Aconchego-me na pele coçada, desbotada da poltrona e puxo a manta raiada.
Poderias estar comigo, mas preferes as luzes ténue dos candeeiros da rua, que cintilam. Não os consigo ver da janela, mas alcanço uma aureula que aclara o negro do céu, sombreiam a cal das paredes. Sei que te perdes lá fora, algures continuas a sorrir, como sempre. Moves-te bem, em sintonia com o espaço e caminhas firme, com a segurança de quem conquista o mundo.
Saberia dizer que a solidão de uma sala cheia ainda me incomoda, mas aprendi que prefiro ter-te no meu pensamento, embora já embalado num sonho.
Perco-me num vazio e frio labirinto. A manga da camisa foi agarrada pelos ramos secos dos arbustos que me cobrem a cabeça e a vista de ti. Despedaça-se em grossos farrapos. Corro sem direcção porque os meus passos são curtos demais para chegar a ti. Não te alcanço! Sinto o teu odor no ar e persigo os teus passos. Ouço os pequenos duendes da floresta sussurrarem à minha passagem, repentina e ofegante.
_ Persegue-os o amor!_ dizem.
Apercebo-me que os seus olhos se entristecem quando me olham. Eles sabem que corro em vão.

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