quarta-feira, 9 de maio de 2007

Minha


O Sol desce lentamente e um ar gelado ainda nos martiriza os cabelos, despenteia-os, enrijece a nossa pele. Os campos florescem, perdem-se de vista numa fracção de segundos. O velocímetro dispara. Vacas pastam. A paisagem está quieta, imóvel à nossa passagem. Pássaros passeiam em bandos, serpenteiam o horizonte. Parecem acompanhar o barco que se desloca para Sul, flutuando sobre a cúpula que coroa a cidade. O cheiro das primeiras flores invade a brisa com uma intensidade atordoante, que fere as narinas e percorre as tuas veias. Relembro os meus dias ali, entre o casario e a imensa planície que se estende a seus pés. Quando os dias cresciam, de repente, como a vontade de te percorrer com todos os meus sentidos, aligeiravamos a roupa e sorriamos nas esquinas e nas praças, vagueavamos pelas ruas e jardins e repusavamos os olhos no teu entardecer. Sempre foste um segredo bem guardado e mesmo agora, há distância de alguns anos, mesmo depois de te ter vivido, de viver o teu âmago, continuas misteriosa. Ergues-te para o imenso azul, onde refletes a tua alma de luz. Por vezes clara, outras vezes na penumbra dos becos continuas a olhar o horizonte, perdida de esperança.

Continuo a gostar de desvendar mistérios...