quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Por entre a chuva


Caminho mais uns passos entre rasgos de chuva miudinha. Sinto as suas pequenas gotas humedecerem-me o rosto e apresso o passo para me resguardar no carro. Chave rodada na ignição e oiço os pneus chiarem pelo deslizar da borracha sobre a água que penetra no alcatrão ressequido. Agora as partículas de água deslocam-se contra mim em alta velocidade sem me tocarem, como se estivesse protegido numa cápsula do tempo, neste redoma de vidro onde o silêncio se quebra com o fado "A sós com a noite", mesmo a calhar para a ocasião. Antes assim fosse porque nos últimos tempo tenho contado as madrugadas no cumprimento do dever. Ainda estou ensonado, bocejo ao cair do sinal vermelho e procuro novo ponto de atenção. As pedras da calçada estão mais limpas que nos últimos meses, polidas pela chuva e iluminadas pelos faróis dos automóveis que parecem fazer clarear um dia que se adensa cinzento. Acelero e de novo as gotas correm sobre os vidros no sentido contrário e observo como se dissipam em gotículas, como caminham para a destruição. Merecia ser fotografado este acontecimento. Talvez um dia numa qualquer máquina de lavagem automática para automóveis.

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